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Editorial
Energia americana muda o jogo
14 de maio de 2013 | 2h 08
O Estado de S.Paulo
Uma revolução energética iniciada nos Estados Unidos pôs em alerta grandes produtores e exportadores de petróleo e gás, já afeta decisões de investimento de amplos setores industriais, desvia recursos do mercado brasileiro para o americano e impõe um duro desafio aos formuladores da política brasileira de energia. Uma tecnologia econômica de exploração do gás de xisto derrubou o preço do gás nos Estados Unidos de US$ 8,9 por milhão de BTU em 2008 para US$ 2,7 em 2012 (o BTU, British Termal Unit, corresponde a 252,2 calorias e é medida usada internacionalmente).
O novo preço corresponde a um quinto do encontrado no Brasil, onde indústrias muito dependentes do gás - dos setores de cerâmica, vidro e petroquímica, por exemplo - perdem competitividade, paralisam planos de expansão ou reorientam investimentos para fora do País, além de aumentar as importações.
Autoridades brasileiras finalmente reagiram às novas condições de preços e às perspectivas de grandes mudanças no mercado. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) decidiu incluir a exploração do xisto no próximo leilão de blocos de gás, previsto para os dias 30 e 31 de outubro. A licitação deverá incluir as Bacias do Parecis (MT), do Parnaíba (entre Maranhão e Piauí), do Recôncavo (BA), do Paraná (entre PR e MS) e do São Francisco (entre MG e BA). A ideia é usar a técnica de fraturamento das rochas de xisto usada nos Estados Unidos.
Com a exploração do gás de xisto, os Estados Unidos poderão tornar-se independentes - ou muito menos dependentes - do petróleo importado, segundo previsões correntes entre especialistas. De qualquer forma, há perspectivas de grandes mudanças no mercado de hidrocarbonetos e isso já incomoda os grandes produtores e exportadores, como a Rússia. Em janeiro, na reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, representantes do governo russo foram forçados a discutir publicamente os efeitos dessa mudança na economia de seu país.
No Brasil, o assunto foi virtualmente ignorado nas discussões públicas até recentemente. A decisão da Agência Nacional do Petróleo de leiloar a exploração de gás de xisto só foi noticiada em meados de abril. As reservas brasileiras, estimadas em 6,4 trilhões de metros cúbicos, estão em décimo lugar na classificação internacional. A China detém as maiores reservas (36,1 trilhões de metros cúbicos), seguida pelos Estados Unidos (24,4 trilhões) e pela Argentina (21,9 trilhões).
Com essa novidade, as empresas do setor de petróleo e gás deverão dar importância, novamente, às atividades em terra, deixadas em segundo plano desde as primeiras descobertas de hidrocarbonetos no mar, nos anos 70. A concentração de recursos na exploração de reservas marítimas ainda se intensificou a partir da descoberta do pré-sal. Desde o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ação da Petrobrás foi orientada como se a exploração do pré-sal pudesse mudar amplamente as condições do mercado internacional em poucos anos, convertendo o Brasil em uma das principais potências petrolíferas.
A exploração de reservas em águas muito profundas é, sem dúvida, promissora, mas nenhum planejador deveria menosprezar as dificuldades e incertezas tecnológicas, os custos enormes, a insegurança quanto aos prazos e, naturalmente, o desenvolvimento de novas técnicas e de outras fontes de energia.
O governo brasileiro assumiu um risco muito grande ao concentrar suas fichas nas possibilidades do pré-sal, deixando em plano inferior até os objetivos imediatos de produção, essenciais para o atendimento do mercado e até para a geração de caixa da Petrobrás, reconvertida em grande importadora de combustíveis.
A nova exploração do gás de xisto nos Estados Unidos é um claro exemplo dos riscos ignorados ou desprezados na política energética brasileira. E é também - é sempre útil lembrar - um exemplo instrutivo das vantagens da flexibilidade econômica americana. Enquanto os outros choravam as dores da crise econômica, os americanos viravam o jogo no mercado de recursos energéticos.
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