Pinhão precoce dá viabilidade ao cultivo de araucária
Pesquisa acelera ciclo de produção do alimento e comprova que cultivo controlado é economicamente viável – com ganho ambiental
Postado em 18 de maio de 2015
O
pesquisador da Embrapa Ivar Wendling. Árvore símbolo do Paraná tem seu
manejo e lucratividade detalhados em pesquisas científicas.
Fotos: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Autor: Igor Castanho
Pinhões
prontos para consumo na metade do tempo e que podem ser colhidos ao
alcance das mãos. Se depender dos pesquisadores da Embrapa, os fãs do
alimento podem comemorar. Especialistas da entidade criaram um método
que acelera o crescimento e diminui o tamanho das araucárias, numa
estratégia que viabiliza pomares da árvore típica do Paraná. Além do que
ganho ambiental, o modelo tenta conquistar os agricultores com promessa
de fonte alternativa de renda.
Os
estudos são conduzidos desde 2002 nas estufas e laboratórios da Embrapa
Florestas, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. As
primeiras tentativas fracassaram: as árvores ficavam tortas ou
simplesmente não produziram. Foi preciso mais de uma década para que
fossem colhidos literalmente os primeiros frutos – ou melhor, sementes.
Saiba Mais
4,6 mil toneladas
de pinhão são colhidas por ano no Paraná, metade da safra nacional. E 500 quilos saem do município de Pinhão (Centro).
de pinhão são colhidas por ano no Paraná, metade da safra nacional. E 500 quilos saem do município de Pinhão (Centro).
Pesquisador
responsável pelo projeto, Ivar Wendling explica que numa situação
normal uma araucária precisa de 12 a 15 anos para produzir os primeiros
pinhões, quando a árvore atinge entre 10 e 15 metros de altura. Com as
novas mudas, criadas por meio da enxertia, o tempo cai para um intervalo
entre 6 e 8 anos e as plantas atingem apenas dois metros de altura,
facilitando a colheita.
A
criação das primeiras mudas foi a parte mais trabalhosa e definiu a
eficiência do método, diz Wendling. É preciso buscar os enxertos na copa
de pinheiros que já estejam produzindo. Depois, basta amarrá-los ao
“cavalo”, plantas de cerca de 1 ano de vida.
“Isso
faz com que a muda incorpore a idade dessa planta mais velha, se
comportando com uma árvore adulta e acelerando a produção”, detalha o
pesquisador. Depois basta multiplicar o resultado usando o caule da
planta resultante, o que dispensa a necessidade de novas escaladas até o
topo de árvores adultas. Nos campos da Embrapa, está sendo estruturado
um pequeno pomar que servirá como banco genético para a produção em
escala e a formação de viveiros privados.
Mais
do que agilidade na produção, o modelo também permite a seleção de
outros atributos como sexo da planta, época de início da produção,
tamanho e valor nutricional dos pinhões. “Basta que exista uma árvore
que já produza nas condições desejadas e isso pode ser replicado”,
acrescenta o especialista.
Com
isso, pode-se fazer o cultivo de machos na proporção mais recomendada
(20%) e ainda garantir que haja produção durante todo o ano. A safra do
pinhão normalmente começa em abril e segue até o início do segundo
semestre.
Para
Wendling, o principal ganho com o método é fomentar a conservação
ambiental aliada à exploração econômica. “As araucárias estão ameaçadas
de extinção e não há grande interesse em seu cultivo comercial”, lembra.
Como a demanda crescente tira boa parte dos pinhões do campo a
multiplicação da espécie fica ainda mais comprometida, complementa.
Os
dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) confirmam a retração na produção de pinhão. Foram colhidas 4,6
mil toneladas em 2013 no Paraná, tombo de 23% ante o ano anterior. O
segundo maior produtor é Santa Catarina, com 3,2 mil toneladas. Na
sequência vêm Rio Grande do Sul (830 mil t) e Minas Gerais (280 mil t),
somando 8,9 mil t em todo o país.
Produção na adolescência
Pomar
- Pinheiros normais crescem alinhados em cultivo semelhante ao de
árvores frutíferas. Eles vão receber enxerto de galhos tirados da copa
de árvores adultas.
Cavalo
- Com 1 ano, os pinheirinhos têm a ponta cortada. No meio do caule, são
introduzidos galhos tirados da copa de árvores adultas, o que determina
a idade e o gênero das novas araucárias, também chamadas de clones.
Experiência
- As primeiras pinhas estão se formando nos canteiros experimentais da
Embrapa Florestas, em Colombo. A partir da comprovação de resultados, a
técnica será difundida a agricultores interessados em produzir pinhão.
Causa coletiva
A preservação da araucária tende a ser estimulada no agronegócio a partir de pesquisas que dão viabilidade ao cultivo.
ManejoPesquisas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolvidas nas últimas três décadas detalham como é possível dominar o cultivo da árvore. A técnica de enxerto, que era vista apenas como uma das alternativas, mostrou que é possível determinar se o pinheiro será macho ou fêmea, por exemplo.
ManejoPesquisas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolvidas nas últimas três décadas detalham como é possível dominar o cultivo da árvore. A técnica de enxerto, que era vista apenas como uma das alternativas, mostrou que é possível determinar se o pinheiro será macho ou fêmea, por exemplo.
Tronco, caule, folhasO
pesquisador da UFPR Flávio Zanette explica que o pinheiro tem três
tipos de estrutura. No troco, crescem galhos e folhas. Nos galhos,
somente folhas, Nas folhas, não surgem pinhas. Assim, se um galho tem a
ponta enterrada, desenvolve raíz, mas não vai se tornar uma árvore
tradicional e tende a pender para os lados.
EspéciesO
pinheiro São José rende pinhões menores, a partir do Dia de São José
(19 de março) e o Macaco tem safra no meio do ano, mas as pinhas são de
mais difícil colheita. O pinhão mais amplamente consumido é o Caiová,
que dá pinhões maiores a partir de abril, quando é liberada a
comercialização no Paraná.
RendimentoAos
12 anos, um pinheiro fêmea dá até 30 pinhas por fêmea (aproximadamente
30 quilos de pinhão). Num pomar de um hectare (com 80 fêmeas e 20
machos), é possível colher 2,4 mil quilos, com receita de R$ 9,6 mil (R$
4 por quilo). O valor é o dobro do alcançado na soja e pode ser obtido
durante décadas apenas com manejo do pomar.
EstímuloO
cultivo de pinheiros ganha força num momento em que surge mais respaldo
legal para a exploração comercial de áreas verdes. O Novo Código
Florestal permite que a recomposição do déficit de reserva legal também
seja aproveitado economicamente. O Instituto Ambiental do Paraná (IAP)
permite o plantio e corte comercial das araucárias, desde que haja
comprovação legal da atividade.
IncertezaApesar
de décadas de trabalho, as pesquisas ainda estão sendo difundidas.
Pomares demonstrativos estão em formação. Mudas são distribuídas pela
UFPR a produtores isolados. Como o cultivo requer longo prazo, as
primeiras experiências é que devem endossar as indicações dos
pesquisadores.
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