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sábado, 6 de agosto de 2011

DEU A LOUCA NO MUNDO - MERCADO IRRACIONAL

exta-feira,  05/08/2011 - 10h33m
ECONOMIA - Mercado irracional
Angelo Pavini, Luciana Monteiro e Daniele Camba | De São Paulo
O pessimismo voltou a tomar conta do mercado mundial de ações ontem, levando o Índice Bovespa a perder 5,72%, a maior queda em um dia deste 21 de novembro de 2008, ecoando as lembranças da grande crise global iniciada com a quebra do banco Lehman Brothers. O índice recuou para 52.811 pontos, o menor nível desde 17 de julho de 2009. Outro sinal ruim foi o volume negociado, de R$ 9,6 bilhões, o dobro do habitual, indicando apostas pesadas na queda.

Só na semana, o Ibovespa acumula uma perda de 10,2%, ou 23,8% no ano. O que significa que R$ 395 bilhões em valor de mercado das empresas brasileiras foram pulverizados no ano, dos quais R$ 160 bilhões apenas nesta semana.

A queda da bolsa tem fundamentos econômicos claros, baseados na piora das expectativas para as economias americana e europeia e que trazem o risco de uma nova recessão. Isso afetaria a demanda por commodities, setor com forte presença na bolsa brasileira. Ontem, o índice de matérias-primas CRB Reuters caiu 2,77%, acumulando no mês queda de 4,12%.

Assim, papéis importantes no Ibovespa e na carteira dos investidores como Petrobras e Vale fecharam ontem acumulando perdas de 11,37% e 9,53% nesta semana, respectivamente. Outra empresa de commodities, MMX, lidera os prejuízos, com 24,75%.

Mas o lado emocional amplificou os sinais ruins da economia, afirmam analistas. Ontem, o catalisador da forte queda foi a decisão do Banco Central do Japão de vender ienes e derrubar a moeda como forma de conter a valorização provocada pela busca por segurança dos investidores. Anteontem, a Suíça agiu na mesma linha cortando os juros.

A falta de coordenação global contra a crise e a busca irracional por proteção fizeram os juros de papéis de curtíssimo prazo americanos despencarem, levando o título do Tesouro de um mês a ser negociado com ágio, ou seja, o investidor pagaria para aplicar no papel. E o Bank of New York Mellon anunciou que vai cobrar taxa de 0,13% de quem tiver mais de US$ 50 milhões em conta.

A má notícia é de que esse movimento de queda da bolsa pode continuar.
Segundo o operador de um importante banco estrangeiro no Brasil, vem aí "mais uma pernada" de baixa, que pode durar mais um ou dois meses. "Devemos ter agora saques em fundos globais dedicados a mercados emergentes, América Latina e Brasil, e esses fundos terão de vender papéis aqui", afirma o operador, que pediu para não ter seu nome citado.

Segundo ele, apesar de as perspectivas de longo prazo para o Brasil serem boas, é o lado emocional que está dirigindo os investidores. Ontem, houve um movimento forte de zeragem ("stop loss"), em que os preços das ações atingem limites de baixa que acionam vendas automáticas e ampliam ainda mais a queda do mercado. "Mas os preços das ações brasileiras estão ficando muito convidativos, apesar das previsões de menor crescimento mundial", acrescenta.

A falta de espaço fiscal e monetário para novos incentivos nos EUA e na Europa cria insegurança sobre o futuro da economia mundial e isso tem reflexos em todas as bolsas, diz Dório Ferman, do Opportunity, gestor do fundo Lógica II, que reúne R$ 2,6 bilhões. "Mas minha única convicção é que a Vale está muito barata, assim como Banco do Brasil, Bradesco e Itaú ", diz. Redecard e Cielo também aparecem na lista de Ferman. Mesmo Petrobras, com seus investimentos polêmicos, também está atrativa, diz.

Ferman observa que estamos vivendo uma situação totalmente nova, com risco de uma recessão nos países desenvolvidos, mas que pode ser compensada pelo crescimento chinês. Ao investidor, ele aconselha que se concentre no conteúdo e no fundamento das empresas, sem perder a racionalidade, escolhendo o que está barato no mercado. "Salvo uma catástrofe mundial, quem tem sangue-frio nesses momentos é que consegue ganhar dinheiro", diz.

O momento é de reversão, de ajuste dos preços dos ativos a um crescimento mais moderado e dúvidas se a economia americana vai se recuperar, afirma Raphael Martello, economista da Tendências Consultoria. "É essa incerteza que permeia o mercado; não se sabe o fundo do poço."
No início do ano, havia uma perspectiva positiva com a economia americana. Mas, recentemente, o desempenho econômico dos EUA se mostrou mais fraco. O economista diz que não trabalha, porém, com cenário de recessão nos Estados Unidos e projeta crescimento de 1,5% do PIB.

Na avaliação de Martello, a bolsa brasileira vem sofrendo mais porque havia gordura para queimar. Em 2009, por exemplo, o desempenho da bolsa brasileira foi muito bom, com alta de 82,66%. Para o investidor, comprar ações agora é entrar num momento de altíssima volatilidade. "Se a pessoa tiver horizonte para daqui a cinco anos, talvez faça sentido, pois várias janelas de oportunidade vêm se abrindo", afirma Martello. "Mas o cenário continua extremamente incerto e a bolsa pode cair mais; o investidor deve estar preparado para perder 10% ou 15% num único dia."

A bolsa deve continuar a sofrer nos próximos dias por conta de novos movimentos de zeragem de perdas, mas sem mudar para um novo nível de preços muito abaixo do atual, acredita Demosthenes Madureira de Pinho Neto, ex-diretor do Banco Central e diretor-executivo da Itaú Asset Management. "Mas em termos de fundamentos, os preços das empresas estão interessantes, apesar das incertezas todas", diz.

Ele alerta, porém, que as crises nos EUA e na Europa devem ser muito mais longas do que a que se viu logo após 2008, e que fragilizou muito as economias desenvolvidas, o que adiará uma recuperação dos mercados. Demosthenes observa que, nos EUA, não há problema no setor financeiro. "Mas na Europa não se sabe a exposição dos bancos a papéis governamentais, que estão se desvalorizando fortemente, um problema que se soma à crise fiscal."

Se os pessimistas de plantão estiverem certos e de fato houver recessão mundial, essa queda dos mercados estará longe de ser algo irracional, diz o economista-coordenador do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. Ele acredita, no entanto, que a desaceleração da economia global não chegará a tanto, portanto, os mercados parecem estar exagerando na dose de pessimismo.

Mas não existem apenas pessimistas no mercado. O presidente da Citi Corretora, Roberto Serwaczak, acha que as quedas desta semana se mostram como uma oportunidade. "Já existem vários papéis superdepreciados e de empresas que possuem fundamentos sólidos", diz Serwaczak. Segundo ele, os investidores estrangeiros estão percebendo essas oportunidades e vêm comprando algumas dessas ações. "Nos últimos dias, o saldo na Citi e em outras corretoras bastante atuantes entre estrangeiros tem sido positivo", diz o executivo.

Serwaczak afirma também que o mercado esquece que uma desaceleração mundial e nas commodities pode fazer a taxa Selic no Brasil passar a cair. "E as quedas de juros costumam ser positivas para a renda variável."

(Colaboraram Beatriz Cutait, Silvia Fregoni e Silvia Rosa)
 
Fonte: Valor Econômico

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