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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ESTORVO

Estorvo - Trata-se de extraordinária reflexão da lavra do colega aposentado BB Marcos Cordeiro de Andrade de Curitiba PR, ao qual, rendemos nossas homenagens pelo magnífico texto.

Raypneto


Caros Colegas.

Guardo o entendimento de que a Sociedade Protetora dos Animais deveria ser dirigida por um elemento do seu meio. Mas, na impossibilidade de acontecer, coloca-se na posição alguém que se identifique com os bichos, pessoa intimamente afinada com os preceitos de preservação e que, por isso mesmo, abomine os maus tratos perpetrados contra os indefesos alvos da maldade e da incúria do pervertido ser humano.

De igual modo entendo que os aposentados e idosos em geral mereceriam melhor tratamento para evitar sua extinção prematura. E que para defendê-los fossem designados seres humanos reconhecidamente justos, talhados para cuidar das suas necessidades e proporcionar-lhes o sossego merecido, devido aos que honrosamente cumpriram seu papel na sociedade, mas hoje tidos como estorvo para essa mesma sociedade.

Propositadamente evitei falar em aposentados na data que lhes é consagrada, deixando para fazê-lo hoje, o “day after” que sucedeu o dia da hipocrisia. Dia que toda uma classe preferiria esquecer, pois seus componentes nada tiveram a comemorar. Dia em que personalidades alardearam e distribuíram honrarias, como a enganar a todos os demais inativos posando de  bons moços. Dia em que vergonhosamente esqueceram as maldades e injustiças perpetradas contra os aposentados, e na maior cara de pau se apresentaram em seus ternos caros e bem
talhados para distribuir falsas comendas, falsamente coladas em peitos falsamente
merecedores.

Devemos ter em conta que a escolha dos homenageados sempre recai sobre nomes que não espelham a classe pretensamente laureada. Essas honrarias são distinguidas pomposamente às figuras que serviram seus provedores, e que continuam a servi-los depois de aposentados.
São sempre pessoas que se locupletam com salários que extrapolam os valores
previdenciários, a eles sobrepostos e normalmente pagos pelos instituidores das honrarias que, igualmente, são premiados pela trajetória laboral subserviente amparada na postura  tipicamente própria dos puxa sacos.

Nunca se viu nessa data tal distinção honorífica incidir sobre um desconhecido e idoso aposentado, alquebrado pelo peso dos anos de maus tratos e apertos financeiros, vivenciados sob o descaso dessas mesmas pessoas que delas cuidam - ou deveriam cuidar. O que se vê nos luzidios homenageados são elementos de belo e bem cuidado porte, evidenciando os bons benefícios auferidos e diferenciados pelo enquadramento discriminatoriamente elitista, proporcionado por legisladores descompromissados com o respeito à honra, à dignidade e desprovidos de bom caráter. A despeito disso, os que merecidamente deveriam ser homenageados são reconhecidos como alvos do deboche e do pouco caso das autoridades  responsáveis pelo seu destino.

Por motivos sobejamente conhecidos essa data não deveria constar na agenda dos
aposentados.  Agenda em cujas páginas deveriam conter somente lembretes dos aniversários de filhos e netos e anotações de datas festivas que comemoram bodas e boas lembranças, mas que lamentavelmente hoje não guardam espaços para esses acontecimentos. Essas páginas, folheadas sofregamente nas cercanias de todo dia do pagamento do benefício, somente comportam anotações de compromissos financeiros – das contas a pagar.

Muitas dessas folhas são umedecidas e borradas pelas lágrimas vertidas inconscientemente no seu manuseio, e escorridas pelos sulcos formados por rugas como drenos a irrigar o cultivo da  árvore dos frutos amargos. Frondosa árvore chamada aposentadoria, que dá pouco sustento a quem a plantou e que dela colhe, mas acolhe sob sua frondosa sombra toda sorte de aproveitadores – ladrões, trapaceiros, e políticos desonestos.

 
Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR) – 25/01/2011.

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